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Nova Carta de Moita Flores a João Moura

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Mensagem  Admin Qua 7 Nov - 20:17

Meu caro
João Moura
Excelso Candidato à
Comissão Distrital do PSD Santarém

Pronto! Já se sabia que isto ia acabar à bofetada e ao pontapé. A carta que o meu caro assina não passa disso. Vai-se-me à ironia, e toma lá!, pontapé que ferve e umas murraças pelo meio da prosa. Prosa rasca, diga-se em abono da verdade, mas cada um é para o que nasce. E depois a confusão do costume. A mesma argumentação de sempre, a confusão entre o programa de Luís Filipe Menezes e V.Exª. Que raio, homem de Deus! Deixe o Menezes em paz, que foi bem apoiado por todos nós. Digo bem, por todos nós, quando V.Exª em vez de me invectivar por ser um independente a intervir no partido, me aplaudia.

Você em desespero de causa quer confundir-se, com outros combates, outras lutas, outros actores. Que raio de mania a sua em estragar a ironia e tratar-me logo com intenções de psicanalista. Que mal me fez? Nenhum! Não é nada contra si e muito menos contra o Luis Filipe Menezes. O meu problema é o preço do quilo de arroz que insiste em não me dizer.

V.Exª acusa-me de não ter ideias. É a desculpa de sempre. No entanto aceito a crítica com humildade democrática. Não tenho. Ideias comigo foi sempre sementeira em terra pouco arável e quando vem alguma trato-a bem, com carinho, aproveitando-a até ao tutano do pensar. É por isso que há anos espero sôfregamente pelas suas. Mas tem sido em vão.

Porém o problema destas eleições não é a minha falta de ideias. Eu nem sou candidato a coisa nenhuma. As ideias do Vasco Cunha e do Miguel Relvas li-as num programa. Não vou dizer que inventaram a pólvora, que devem ser candidatos ao prémio Nobel, etc e tal. Mas pronto, isto também é uma eleição para uma Distrital, não se pede um Heidegger ou um Kant para presidente da dita. Pede-se coisa limpa e escorreita.

O essencial é que no seu programa é claramente expresso que só quem souber o preço do bilhete do comboio Entroncamento até Lisboa e o preço de um quilo de arroz terá lugar no seu projecto. E este sim, com uma única ideia, obsessiva e avassaladora: eu sou o herdeiro da vitória de Menezes. Aqui ninguém mexe. Esta vitória é minha e só minha. Não se cansa, homem de Deus?!

A sua resposta apenas confirma os meus receios. Escreve, escreve, escreve, sopapo daqui, murro dali, eu insulto este presidente de câmara (mas é o senhor que insulta!), eu mereço mas não mereço, sou visível mas não sou líder, ao contrário de V.Exª que é invisível mas um grande líder, considera-me mas desconsidera-me e quanto à minha reconhecida ignorância sobre os preços essenciais da sua política, responde-me à pedrada. Garante-me que o preço do bilhete do Entroncamento para Lisboa é o mesmo que se paga de Lisboa para o Entroncamento(!). Ora isto é resposta preguiçosa. Podia dizer: Ó Moita, eu sou um líder do caraças mas a essa do bilhete não te sei responder!

Ou usava outra fórmula. Pedia a um dos seus colaboradores que rápidamente fosse à estação saber o preço da porcaria do bilhete e fazia um brilharete: Ó, Moita, pá! És um ignorante do cacete, pá! O bilhete custa tanto.

Mas não. Cacetada na minha carta. Deve ter tido amigos a ajudá-lo, seguramente, sobretudo nos adjectivos, porque aquilo, às tantas, parece-me cheio de ganas de se atirar às goelas da prosa. Seguraram-lhe os apetites e vá de se lamentar que o povo social democrata está cansado da minha forma de fazer política. Um pedaço de vazio, retórico, lacrimejante. E percebe-se que o mesmo povo, pelas suas palavras, está ansioso, diria mesmo, sedento da sua política, da manhã de nevoeiro em que o glorioso ideólogo do arroz surgirá para governar o povo distrital.

Vamos lá então falar da sua política e, por esta mesma razão, volto ao preço do quilo de arroz. Em vez de me responder, não! Manda-me perguntar à classe média, coisa que o preocupa sobremaneira. Porém, que eu saiba, o preço do quilo do arroz não é o problema essencial da classe média. Mas enfim, também ignoro a que média se refere. Como lhe dizia, meu caro, em vez de responder, tece considerações sobre os vários tipos de arroz. Complica a sua própria estratégia política. Devem ser de vários preços, o que significa que terá de haver uma divisão social do arroz conforme os preços. O carolino será para a classe média? E o agulha? Seguramente que o trinca é para o povão esfomeado. Mas qual o preço? E em que qualidade e quantidade culinária se divide o seu programa eleitoral? São dúvidas a que V.Exª não quis responder.

O drama desta confusão é que V.Exª está mesmo convencido de que é líder. E eu, que gosto de dramas, concordo. Qualidades não lhe faltam. Porte muito menos. A retórica está lá toda. Mas o programa político, já se viu que não passa dessa confusão entre arroz e bilhetes de comboio. Projectos palpáveis, já se percebeu que vai do insulto ao pontapé. Mas auguro-lhe bom futuro. Embora jovem já é perito na arte da manipulação, na sublime interpretação do papel de vítima, suficientemente flatulento para olhar de alto para os ignorantes que procuram, como eu, ávidos e aflitos, o preço do quilo de arroz. Faz bem. É por aí que a política chega aos píncaros da glória e V.Exª à glória dos píncaros da fama.

Não prometo calar-me como V.Exª prometeu na sua carta. É da minha natureza. Maus caminhos por onde um homem anda há dezenas de anos. Calado só quando não existe motivo para falar. Um pecado do qual me penitencio mas sem remissão. Mas V.Exª tem qualidades de líder e, por isso, está sempre em condições de desrespeitar aquilo que prometeu. É da condição dos grandes homens. Quanto a mim, juro que mal acabe esta carta vou ao supermercado. Já que o líder incontestável da renovação distrital se recusa a dizer-me o preço do arroz, - ponto substantivo do seu programa eleitoral - vou eu mesmo à procura. De facto, não tenho possibilidade de ser tão preguiçoso. Tal como afirmei na primeira carta não me interessa o preço do bilhete de comboio Entroncamento-Lisboa. É querer saber demais sobre o mundo da alta política. V.Exª confirmou que é o mesmo preço do bilhete Lisboa-Entroncamento. Acredito e conformo-me com a resposta. E agradeço que me tenha iluminado com o seu fino pensar de líder.

Permita-me apenas, e perdoe-me o atrevimento, um conselho de um homem já a caminho da velhice, caminho andado por muito lado e pelas páginas de muitos jornais. Quando voltar a escrever, o nosso comum e querido amigo Armando Fernandes que lhe veja os textos de perto. Sabe de culinária, gastronomia e mete uns adjectivos a preceito. E como o meu caro está perante essa transgressão intelectual profunda que é de saber o que fazer com o arroz, sempre terá alguém mais próximo dos seus destinos finais. Já imagino a próxima ideia: o teleologismo do arroz no pensamento do líder João Moura. É d’arrasar!

Um Abraço ao grande líder
Francisco Moita Flores
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